domingo, 30 de abril de 2023

A solidão do espetáculo Asteroide AP612

Foto: Divulgação



Ontem tive uma das experiências mais emocionantes dos últimos dias. Fui assistir ao espetáculo Asteroide AP612 a convite de uma grande amiga. Confesso que foi minha primeira vez em um teatro presencial, assistia peças pela internet, TV, mas a imersão do ao vivo da emoção nunca havia experienciado. Ao fim do espetáculo, abriram-se para perguntas e visões sobre a obra, de autoria do diretor Dagô. Muitas foram as impressões e eu, na minha extrema timidez e peculiaridade de um mundo que acho que só eu entendo ou interpreto, preferi me abster. Esse tipo de trabalho faz com que o expectador tenha as mais diversas experiências pessoais. Acredito que cada um vê a peça de acordo com o seu mundo interior, de acordo com as experiências pessoais, crenças e etc. Aqui falo das minhas impressões.
Primeiramente, preciso contextualizar que é um monólogo sem fala, baseado em apenas expressões corporais e efeitos sonoros e visuais de um personagem, asteroide, que vive no espaço vagando e visitando alguns cosmos ao longo da sua jornada pela infinitude do universo. A obra é inspirada no livro O Pequeno Príncipe e a questão da grandeza do ser humano e um planeta pequeno demais para caber outro ser. O que eu vi durante a brilhante atuação da atriz Ana Flávia Garcia, é o paradoxo entre a solidão humana e a falta de conhecimento do indivíduo sobre ele mesmo.  Claramente eu enxerguei meu mundo e minhas questões particulares ali. A peça foi muito além das intenções do diretor e de toda equipe que fizeram o espetáculo acontecer. Durante a 1 hora em que o asteroide interage com mundos diferentes, eu só vi a representação da humanidade atual. A solidão de um alguém, mesmo cercado de diversos outros mundos, que não se reconhece porque está sempre olhando para o além. A imaturidade, as vezes infantil, em lidar com as próprias emoções. Traz de volta aquela criança interior ferida que busca compreender a si mesmo na fase adulta, onde é muito mais difícil de lidar. O personagem caminha em círculos, durante noites e dias, buscando prazer e descartando o que não lhe serve. Depois de uma frustração daquilo que lhe chama a atenção, mas não é perene, ele sai em busca de outros mundos onde possa se sentir bem, mas ele esquece que não adianta fugir, que estamos conosco todo o tempo e é preciso nos enfrentar. A agressividade com o externo parece fácil para ele, em derrotar, e acabar com qualquer coisa que seja incômodo, mas quando ele se depara consigo mesmo, é inevitável o sofrimento. Ele não se reconhece, tem raiva de sua imagem, mas quanto mais tenta espantar, mais se torna evidente a necessidade de se encarar, se compreender e se aceitar.
Em muitos momentos da peça tive calafrios, falta de ar, e uma vontade extrema de chorar, sair do lugar de espectador e entrar em cena para abraçar aquele ser, que no fundo me representava. É como se eu estivesse me vendo de fora, num exercício que não é tão simples de fazer no dia a dia. É como se eu estivesse vendo a minha criança interior e quisesse a proteger e abraçar para dizer que em meio toda aquela solidão, ela tem a si mesma e a mim adulto hoje, mais forte e mais preparado para acolher emoções tão descontroladas e imaturas quando não havia ninguém para o fazer.
A obra instiga a busca do autoconhecimento, quem somos, para onde vamos e a partir daí conseguir enxergar genuinamente o que há de verdade ao nosso redor além de nossas emoções.

A quem possa se interessar, restam duas datas para as apresentações: 
4 e 6 de maio (quinta e sábado) às 20h no Galpão Salomé, na 716 norte.
Brasília/DF
Ingressos pelo Sympla 
Mais informações no instagram @asteroide.espetaculo

Ficha técnica

Direção:
Roberto Dagô
Ana Flávia Garcia
Deborah Alessandra

Direção e dramaturgia
Roberto Dagô

Performance
Ana Flávia Garcia

Assistente de direção
Deborah Alessandra

Projeção mapeada
Aníbal Alexandre / Matriz Visual

Direção de arte/ cenário/ figurino e objetos
Danilo Fleury/Coarquitetos
Poli Salomé

Trilha sonora e sonoplastia
Zé Pedro Gollo
Rafael Ops

Iluminação
Lemar Rezende

Preparação corporal
Tobias

Assessoria de imprensa
Clara Camarano
Denise Camarano

Mídias sociais 
Clara Molina

Design Gráfico
Maíra Guimarães/Coarquitetos

Estagiário de produção
Ilgner Boyek

Direção de produção
Aline Cardoso

O projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC). ApoioBurburinho Cultural, Coarquitetos, Secretaria de Cultura e Economia Criativa e Galpão Salomé

sábado, 4 de março de 2023

Você consegue ser uma máquina?




Acabei de ver uma vaga de emprego detalhando as funções esperadas pela empresa, e uma delas era "Conseguir produzir sob pressão" (ctrl+c - crtl+v). Não é a primeira vez que vejo esse termo ou termos como "ser apaixonado por metas", "ser muito proativo", "gostar de entregar mais do que foi pedido" e outras tantas. Coisas assim me assustam muito, pois em um mundo pós pandemia (milhões de vidas perdidas), custo de vida cada vez mais alto, mais pessoas em situação de vulnerabilidade etc., você se depara também com as condições de trabalho cada vez piores e, com isso, um aumento absurdo do adoecimento mental da população.

E sendo bem honesto, todos esses termos não significam nada além de "Vamos te explorar o máximo que pudermos e te adoecer. Depois vamos te demitir e colocar outro em seu lugar". Quantos aqui não passaram por isso? E o pior, tiveram que aguentar quando não estavam nada bem por medo do desemprego? É de uma crueldade imensa por parte de empresas que se dizem sérias e respeitadas, mas não respeitam o indivíduo que existe por trás de um funcionário, colaborador, servidor ou quantas palavras você quiser utilizar. É o capitalismo bruto, é a escravidão contemporânea. E, infelizmente, isso não mudará tão cedo, porque para essas empresas funciona, literalmente, como a frase que diz "Se você não quiser, tem quem queira!".

Os sindicatos têm cada vez menos força diante dessas empresas e do sistema judicial. Não há uma movimentação política, uma consciência de classe 'trabalhista' para mudar questões como essas, porque, infelizmente, as pessoas não podem se dar ao luxo de estarem desempregadas. Hoje, é uma questão de sobrevivência diária para muitas famílias.

Okay, o labor não precisa ser necessariamente um lazer. Não estou aqui floreando, vivendo uma perspectiva utópica como a do pensador Confúcio do “trabalhe com o que você ama e nunca mais
precisará trabalhar na vida”. Essa não é a regra! Porém o cenário só traz desesperança em um trabalho ao menos digno, e nos faz questionar se ainda somos seres humanos ou apenas máquinas. Tem uma frase, do qual não sei a autoria, que diz: "Se a gente trabalhar feito máquina, vamos quebrar feito máquina - mas seres humanos demoram mais tempo para consertar".

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Eu desisto...

    


    Ao longo desses anos eu tenho pensado muito sobre o que realmente vale a pena e até onde posso ir gastando energia lutando por (algo). Somos seres humanos cheios de qualidades e falhas. Vamos acertar e falhar sempre, e isso faz parte do crescimento, da maturidade, da nossa compreensão de mundo, de visão, de aceitação, de perdão etc. Eu sempre fui o tipo de pessoa sonhadora que dificilmente desiste dos objetivos. Ainda tenho dificuldade de desistir daquilo que está sob meu controle e isso inclui a mim mesmo. Todas as outras coisas fora do meu controle, que não dependem de mim, eu deixo ir, mas não antes de tentar uma, duas, três e até mais vezes, porque de certa forma ainda tenho esperanças, mas a diferença é que hoje eu desisto e aceito esse fato. Houve sempre uma pressão enorme comigo mesmo por desistir, como se eu fosse fraco, negligente, como se eu exclusivamente tivesse sido a causa de algo que não deu certo (fora do meu controle), mas aos poucos vou aprendendo que tudo acontece como tem que acontecer e no momento que for para acontecer. Ainda é difícil, pois tenho que me relembrar diariamente, a todo segundo que muito não depende só de mim para que assim eu possa apaziguar meu espírito. Desistir só é sinal de fraqueza se você antes não tentar, se você não fizer o mínimo para depois olhar para trás e pensar: “eu tentei”, ou “não foi por falta de tentativa”. A gente não consegue saber sobre tudo, ter tudo, ser tudo e tudo bem. E sabe o que é mais interessante, às vezes teremos algo, seremos alguém que outro alguém gostaria de ser e vice-versa.


quinta-feira, 9 de abril de 2020

ESSA NÃO É SUA VERDADE


Nos últimos anos eu tenho vivido da maneira como as pessoas acham que seja o certo para mim. Exatamente! Eu tenho vivido o que a sociedade nos impõe viver como indivíduos únicos sincronizados para agir, pensar, falar aquilo que é esperado, aquilo que querem ouvir. E dessa forma, me vi rastejando, fazendo dar certo amizades e relacionamentos tóxicos. Insistindo em me encaixar e ser "normal" como já havia escutado. Anos de terapia não foram suficientes para entender a complexidade do meu ser e provavelmente nunca serão. Inúmeras vezes utilizei da tecnologia disponível para tentar manter laços. Redes sociais para marcar encontros nunca acontecidos ou simplesmente conversar com os amigos. Aplicativos de relacionamento para conhecer pessoas interessantes que nunca vingara etc. Ao fim de tudo, nada disso deu certo. Por mais esperto que eu fosse e houvesse prometido para mim mesmo que nunca mais mendigaria amizades ou, por péssimas experiências ao meu redor, entraria numa relação abusiva, quando percebi estava lá novamente repetindo as mesmas ações. Eu duvidei tanto do meu valor, por tantas vezes. Tentei ouvir diversos pontos de vista, exatamente daqueles que tanto me criticavam e acabei por me sentir pior, acreditando numa verdade que não era a minha, tentando explicar os meus sentimentos, desperdiçando meu tempo, ficando cada vez mais exausto e incompreendido. Me explicando no trabalho, me explicando para mim mesmo. Me vi até em situações de 'amigos' endossando meus 'erros' para aqueles me me fizeram mal. Um dia acordei e me senti extremamente cansado. Um cansaço que não era físico, nem mental, mas um cansaço de tentar construir sólidas relações com meus semelhantes. E aí que cheguei a minha resposta, que já deveria saber desde meus anos mais jovens: poucos querem algo sólido num mundo cada vez mais isolado e superficial. O erro nunca esteve em mim, ou só em mim (como tentaram me fazer acreditar). O erro estava nas conexões fora de sintonia das minhas. E a partir daí, eu simplesmente fui embora... Sem olhar pra trás. Eu nasci assim, contestador, profundo, intenso e dificilmente experimentarei outra coisa que não seja a solidão e está tudo bem. Infelizmente, a frase do ministro da propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbles, nunca foi tão atual: "Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade". O que estou fazendo é nunca deixar que a "verdade" dos outros se torne a minha verdade. Minha essência contestadora, rebelde, e má vista por uma sociedade tão organizada e padronizada nunca me permitiria cair nessa armadilha. Não deixe que essa quarentena te faça perder sua essência e voltar para aquele lugar ruim que você prometeu para si mesmo que nunca mais voltaria. Nem eu, nem ninguém será o detentor da verdade absoluta sobre todas as coisas.

sábado, 30 de setembro de 2017

Tenha dó de você mesmo

Imagem: iStok/UOL
Ultimamente tenho refletido o quanto andamos egoístas e ao mesmo tempo tão sem amor próprio. Parece confuso, mas ao mesmo passo que pessoas têm se importado apenas consigo, elas mendigam e imploram por sentimentos e atenção que nem elas mesmas se dão.
O pior estágio da chamada ‘crise existencial’ é quando você tem dó de si mesmo.  É péssimo chegar nesse ponto. Eu tenho estado deste lado nos últimos tempos. Tenho feito tanto esperando que as pessoas ao menos reconheçam, e isso raramente acontece. Qualquer tipo de relacionamento - seja ele amoroso, amigável ou familiar - é uma via de mão dupla. Não dá para sempre um estar procurando manter o vínculo enquanto a outra parte parece não se interessar.
Percebi que eu estava sempre ali ouvindo os problemas dos outros com boa vontade, porque de certa forma eu me importo; ajudando a encontrar a solução, visitando, estando presente. Mas quando chegava a minha casa percebia que eu estava sozinho e que nem as redes sociais poderiam diminuir a indiferença daqueles que eu estava sempre apoiando. Uma vez, meus melhores amigos comentavam que eu “reclamava demais”. Nesse dia eu tive pena de mim mesmo, uma dó profunda.
Raramente dava atenção para mim mesmo. Tentava ao máximo resolver meus próprios problemas, mas esperava poder apenas desabafar com quem confiava e como um cão sem dono, cai da mudança e fiquei pela estrada. Que sentimento horrível. Eu estava sozinho, sem poder, de fato, contar com alguém. Só eu e meu sentimento de dó que neste momento tomava conta de mim e me fazia me sentir mais péssimo do que estava.
Uma voz dentro de mim dizia: Ricardo olhe só para você... Por que implora tanto que as pessoas estejam aptas a te entender? Não percebe que elas se acostumaram com sua presença? Não percebe que quando é você que precisa desabafar faz isso nas suas orações, esperando que ainda haja alguma esperança divina para te escutar?  Não percebe que não há ninguém a sua volta?
Foi preciso voltar algumas casas e não ter medo de enfrentar a realidade. O mundo já anda tão cheio de si e egoísta que parece difícil focar em si mesmo, não é mesmo? Mas há uma maneira. Focar nos próprios objetivos e tentar se livrar de tudo o que te faz mal, incluindo sentimentos. ÀS vezes precisamos nos observar de fora para entender que também precisamos de cuidados e que, mesmo que ele não venha do externo, possa vir do interior de nós mesmos.

sábado, 8 de julho de 2017

Quase 12 anos...

Image:Pnterest

Seriam 12 anos de amizade, se tudo isso não tivesse tomado outro caminho. Se as mentiras tivessem sido apenas algo engraçado e não tivessem magoado tanto. Não. Eu não preferi acreditar no que algumas pessoas andaram falando, porque tudo o que elas me falavam era algo que eu já sabia, mas preferia fingir não ver, por consideração, por insistir em algo que parece nunca ter dado certo, desde a primeira vez. Eu acredite várias vezes em sua mudança. Não uma, nem duas, nem três, nem quatro... Não sei quantas vezes. Mas como preferi dizer olhando em seus olhos, eu sempre estive só nessa amizade, tentando não deixar que as coisas abalassem-na. Sabe por quê? Porque sempre acreditei em sentimentos verdadeiros, e infelizmente, continuo acreditando e sofro por isso. Sou uma piada de mim mesmo em um mundo superficial e cheio de aparências.  Um mundo em que você preferiu se entregar para que fosse quisto por aqueles que você achava que pudesse lhe oferecer algo melhor do que o que eu oferecia. Todos percebiam e me alertavam, mas eu insistia. Sabia que a mudança viria, porque queria que você percebesse que nada material, absolutamente nada, pode substituir sentimentos verdadeiros.  E a cada vez eu ficava mais e mais desacreditado, olhando para mim e me vendo mendigando coisas que deveriam ser naturais. Nos meus piores momentos você não estava lá... E eu fui apenas deixando as águas passarem e levarem todos os meus questionamentos. Naquele dia, dei mais uma oportunidade para nossa amizade. Diferente de acusações feitas pelas costas, preferi colocá-las à sua frente, e eu sabia o que você faria, algo dizia e foi exatamente o que aconteceu: Você desmentiu tudo, como sempre fazia, mesmo sabendo dentro de si que muito era verdade. A sua consciência sabe... Eu sei que sabe. Esperava que você reconhecesse apenas uma dessas coisas, apenas uma, para voltar acreditar em você como ser humano. Apenas uma, mas não. Era mais fácil negar para que eu parecesse um frio, sem coração, sem dó, sem pena, sem consideração, paranoico, como costumava a me pintar para os outros. Dias depois você me procurou para saber qual era visão que eu tinha de você. Naquele momento, mais uma vez, acreditei que tudo poderia ser apagado com uma conversa franca, e abri minha casa para que pudéssemos conversar. Você nunca apareceu. Preferi olhar para dentro de mim e ver quem eu realmente era como pessoa, o que buscava e quantas vezes eu poderia continuar insistindo e o cansaço foi maior. Abri as mãos e deixei que a água que eu represava nas mãos pudesse escapar e quem saber molhar um chão seco de sentimentos. . Ao contrário do que deve pensar, não tenho ódio e nem magoas. Eu sempre disse que por respeito aos longos anos, e pela sua família, jamais faria isso de forma ruim e cumpri. Mas chega um momento em que não há mais o que ser feito e, neste caso, isso aconteceu. O fim da linha chegou, chegou ainda durante a vida. Por ainda termos pessoas em comum, acompanho suas conquistas e fico feliz que tenha chegado tão longe profissionalmente. Sempre torci por isso e continuo na torcida para que só haja coisas boas na sua vida, porque eu sei que lá no fundo sua verdadeira essência sobrevive. Tento me lembrar só das coisas boas que vivemos durante anos de amizade, e isso é o que me matem acreditando em você. Haverá outros capítulos, pessoas, amores, amigos que ainda vão passar por sua vida. Acredite sempre em você mesmo e nunca precisará ser alguém que não é, por mais que isso não seja o ideal para sociedade.

quarta-feira, 15 de março de 2017

A digital da dor


Existem várias coisas na vida da gente que apenas nós conhecemos. A dor, ao contrário do que pensam e defendem, não é compartilhada. A dor é egoísta e solitária. Infelizmente.... Ela pode incomodar como uma brisa ou devastar como um terremoto. O maior erro que as pessoas insistem em cometer é comparar suas dores com as dores de outras pessoas. Que seja para confortar ou dizer que nem tudo vai mal. Erro! Um quilo de algodão pode ser o fardo mais pesado que alguém precisa carregar enquanto que um quilo de ferro maciço pode ser a coisa mais insignificante para outro. Não canso de dizer que somos pessoas totalmente diferentes, apesar de termos hábitos semelhantes. Cada um tem uma história e cada um sabe exatamente o que lhe atinge profundamente e onde. Cada um conhece os seus demônios e o tamanho que cada um deles tem e quão assustador cada um deles é. Outro engano é achar que você não deve sofrer por algo porque, de acordo com a sociedade, não é motivo suficiente para tal. Prender as emoções é o pior erro que você pode cometer consigo mesmo. E a sociedade não é saudável e tampouco referência para nada. A sociedade é hipócrita e cria filhos tão hipócritas quanto. Sofra, comemore, chore, vá até o fundo do poço, ande nas nuvens, ame, odeie, guarde rancor, perdoe, mas faça tudo isso no seu tempo, quando achar que está preparado. Faça tudo isso sozinho, a menos que haja alguém que possa apenas segurar sua mão e dizer que estará ali para te dar suporte. A dor é como uma digital humana ou como um grande complexo de códigos binários. A dor é única.

sábado, 24 de setembro de 2016

Desculpe o transtorno, eu era só um adolescente


Ainda tenho dúvidas se a parte mais difícil da vida é ser adolescente ou ser adulto. Acho que cada um sabe onde a dor aperta. Hoje, nos meus vinte e poucos anos, olho pra trás e percebo que aquilo era só o começo. Como toda criança que entra na puberdade, tive meus medos e não havia ninguém para me ajudar.
É difícil quando os hormônios começam a fervilhar dentro de você e você não consegue entender o que se passa. Suas emoções ficam inconstantes, tudo fica mais intenso, a raiva parece ser algo incontrolável, e a irritabilidade então? Falta paciência, sobra imediatismo e você se torna chato. Não pelo que os outros pensam, mas quando você se olha no espelho percebe que, por mais que você queira ser “cool” (legal), você está chato e sente raiva de si mesmo. A auto-estima vai por água a baixo.
Voltando ao fato de estar sozinho, não culpo os pais, porque eles vivem a vida adulta, muito mais cheia de problemas que eles escondem (e a gente nem imagina), porque ainda não é o nosso momento. E  pais sofrem sozinhos também com esses problemas - a.k.a. vida adulta. Quando falo de estar sozinho, falo sobre essa atenção que nós jovens clamamos. Nosso olhar, nossas atitudes imploram, mesmo que não digamos uma só palavra: “Ei, me ajuda! Eu não sei o que está acontecendo comigo?”. Um conselho, um abraço. Haja paciência! E geralmente nossos pais já estão tão sobrecarregados de seus problemas que essa paciência se vai... E vira um ciclo vicioso: “Você não me entende!”, como se eles nunca tivessem sido adolescentes um dia.
Falta empatia, amizade, companheirismo, de ambas as partes, mas adolescente... adolescente não consegue distinguir esses momentos difíceis. A cabeça parece dar um dó! É nesse momento que entramos numa tristeza profunda, nos escondemos, temos medos bobos, mas que acabam se tornando em monstros. Outros já preferem a rebeldia para consolidar uma personalidade que ainda não está formada:  piercings, tatoos, cigarros, álcool, sexo, drogas... posts e imagens depressivas nas redes sociais e por aí vai.
Nessa fase não gostamos de ouvir ninguém, não gostamos de ser contestados, porque acreditamos que podemos resolver nossos assuntos com maturidade. Que maturidade? Mas nunca fale isso para um adolescente. É o fim! Temos vários amigos e junto deles, inconstâncias. Várias inconstâncias... Imagina um bando de adolescente juntos? Brigas, raiva, fúria em um dia, amor e amizade 'pra sempre' no outro. Mas esse "pra sempre" não existe, queridos jovens! Amigos mesmos, de verdade-verdadeirinha, têm outra definição que só vamos aprender quando formos mais velhos.
Quando seus vinte e poucos anos chegam e você abre a porta da vida adulta, percebe que aquilo era só o início. Que os leões são muito mais ferozes agora. Mas a diferença é que esses leões vivem do lado de fora, e quando somos adolescentes, eles vivem dentro de nós.  Não adianta os pais usarem todas suas experiências para criticar e dizer que “isso não está certo!”, ou brigar, gritar, xingar... Isso só piora as coisas e afasta o relacionamento sublime de pais e filhos.
Não há uma receita para lidar com a adolescência. Só deixar o tempo passar, afinal é uma fase. Nem somos tão inconsequentes assim. Só precisamos de atenção. Se eu pudesse dar um conselho para os pais que vão ler isso, eu diria apenas uma coisa: paciência. Se vocês não puderem ter paciência com seus filhos, como vão ajudar? Apenas paciência. Não coloque expectativas sobre nós, não queira que sejamos exemplo, não nos compare com os filhos dos outros. Neste momento o que mais queremos é liberdade, e saber que podemos contar com alguém e que alguém gosta da gente do jeito que somos. Quando estivermos experientes e maduros vamos nos arrepender de muita coisa, acreditem.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Meu pequeno balão de pensamento

Hoje, indo para o trabalho, encostei minha cabeça no vidro do ônibus para relaxar. Quando meu primeiro pensamento veio à cabeça, surgindo como um balãozinho, em sentido figurado, percebi que ele foi esmagado por vários outros balõezinhos. Perguntei-me: como poderia não haver espaço para o meu pensamento, quando havia um relativo espaço físico vazio dentro do transporte onde o silêncio imperava? Notei que exatamente o silêncio é o barulho da mente. Quantas pessoas estavam ali caladas, mas seus pensamentos estavam além desse dia, além daquele local. Pessoas que não interagiam entre si, talvez pela premissa de achar resultados para seus pensamentos acelerados: final de semana, filhos na escola, problemas financeiros, amorosos e tantos outros desconhecidos. Quanto mais alguém se cala, mas seus pensamentos gritam. Enquanto esse ônibus atravessava Brasília em um silêncio profundo, com ele estavam abafados todos os pensamentos daquelas pessoas, pensamentos de raiva, saudade, amor, paixão, tesão, preguiça, frustração, desejos, tristezas, etc. E então, uma mulher desafiou o frio intenso para abrir uma fresta da janela onde minha cabeça estava encostada. Talvez ela estivesse pensando exatamente como eu e seu impulso foi o da libertação, ou talvez ela apenas estivesse se sentindo abafada – como estava o meu pensamento. Foi aí que vários balõezinhos se dissiparam e o meu pode surgir com uma única mensagem: por que os remédios para gripe dão tanto sono? Preciso melhorar logo...

terça-feira, 1 de março de 2016

Saindo de cena...

Reprodução/NOO
Tem horas que você percebe que o show acabou e não tem ninguém mais na plateia para te aplaudir. Apenas os sons reverberando na mente de quando os holofotes iluminavam todo o recinto, de quando havia luz. Palmas para o que foi feito, sendo ovacionado em todas as conquistas, em todos os momentos de glória, e agora? Esse lugar não tem luz, o único eco é o das batidas de um coração apertado e velho batendo em descompasso. Ah, se eu soubesse que esse dia chegaria com gosto tão amargo, teria construído um lugar ao pôr do sol para observar as aves que fogem para um lugar de esperança. Mas eu quis viver aquele momento, como se eu fosse jovem para sempre, como se o amanhã nunca chegasse. Era intenso e quente, havia aquela chama dentro de mim que queimava dia após dia, com o tempo se apagando e se transformando em cinzas. Cinzas é o que sou, um corpo de cinzas frio e de labaredas quase sendo cessadas pelo vento frio das ruas poluídas. É hora de sair de cena, resguardar o pouco que sobrou, como os animais que somem procurando um lugar para se despedir, sem incomodar os donos. É hora de abaixar as cortinas e tirar o sorriso do rosto, é hora de agradecer ao público por ter comparecido ao grande espetáculo da vida. Eu entretive as multidões enquanto tive forças, enquanto havia algo para oferecer, enquanto minha mente se transbordava em inspirações.