domingo, 30 de abril de 2023

A solidão do espetáculo Asteroide AP612

Foto: Divulgação



Ontem tive uma das experiências mais emocionantes dos últimos dias. Fui assistir ao espetáculo Asteroide AP612 a convite de uma grande amiga. Confesso que foi minha primeira vez em um teatro presencial, assistia peças pela internet, TV, mas a imersão do ao vivo da emoção nunca havia experienciado. Ao fim do espetáculo, abriram-se para perguntas e visões sobre a obra, de autoria do diretor Dagô. Muitas foram as impressões e eu, na minha extrema timidez e peculiaridade de um mundo que acho que só eu entendo ou interpreto, preferi me abster. Esse tipo de trabalho faz com que o expectador tenha as mais diversas experiências pessoais. Acredito que cada um vê a peça de acordo com o seu mundo interior, de acordo com as experiências pessoais, crenças e etc. Aqui falo das minhas impressões.
Primeiramente, preciso contextualizar que é um monólogo sem fala, baseado em apenas expressões corporais e efeitos sonoros e visuais de um personagem, asteroide, que vive no espaço vagando e visitando alguns cosmos ao longo da sua jornada pela infinitude do universo. A obra é inspirada no livro O Pequeno Príncipe e a questão da grandeza do ser humano e um planeta pequeno demais para caber outro ser. O que eu vi durante a brilhante atuação da atriz Ana Flávia Garcia, é o paradoxo entre a solidão humana e a falta de conhecimento do indivíduo sobre ele mesmo.  Claramente eu enxerguei meu mundo e minhas questões particulares ali. A peça foi muito além das intenções do diretor e de toda equipe que fizeram o espetáculo acontecer. Durante a 1 hora em que o asteroide interage com mundos diferentes, eu só vi a representação da humanidade atual. A solidão de um alguém, mesmo cercado de diversos outros mundos, que não se reconhece porque está sempre olhando para o além. A imaturidade, as vezes infantil, em lidar com as próprias emoções. Traz de volta aquela criança interior ferida que busca compreender a si mesmo na fase adulta, onde é muito mais difícil de lidar. O personagem caminha em círculos, durante noites e dias, buscando prazer e descartando o que não lhe serve. Depois de uma frustração daquilo que lhe chama a atenção, mas não é perene, ele sai em busca de outros mundos onde possa se sentir bem, mas ele esquece que não adianta fugir, que estamos conosco todo o tempo e é preciso nos enfrentar. A agressividade com o externo parece fácil para ele, em derrotar, e acabar com qualquer coisa que seja incômodo, mas quando ele se depara consigo mesmo, é inevitável o sofrimento. Ele não se reconhece, tem raiva de sua imagem, mas quanto mais tenta espantar, mais se torna evidente a necessidade de se encarar, se compreender e se aceitar.
Em muitos momentos da peça tive calafrios, falta de ar, e uma vontade extrema de chorar, sair do lugar de espectador e entrar em cena para abraçar aquele ser, que no fundo me representava. É como se eu estivesse me vendo de fora, num exercício que não é tão simples de fazer no dia a dia. É como se eu estivesse vendo a minha criança interior e quisesse a proteger e abraçar para dizer que em meio toda aquela solidão, ela tem a si mesma e a mim adulto hoje, mais forte e mais preparado para acolher emoções tão descontroladas e imaturas quando não havia ninguém para o fazer.
A obra instiga a busca do autoconhecimento, quem somos, para onde vamos e a partir daí conseguir enxergar genuinamente o que há de verdade ao nosso redor além de nossas emoções.

A quem possa se interessar, restam duas datas para as apresentações: 
4 e 6 de maio (quinta e sábado) às 20h no Galpão Salomé, na 716 norte.
Brasília/DF
Ingressos pelo Sympla 
Mais informações no instagram @asteroide.espetaculo

Ficha técnica

Direção:
Roberto Dagô
Ana Flávia Garcia
Deborah Alessandra

Direção e dramaturgia
Roberto Dagô

Performance
Ana Flávia Garcia

Assistente de direção
Deborah Alessandra

Projeção mapeada
Aníbal Alexandre / Matriz Visual

Direção de arte/ cenário/ figurino e objetos
Danilo Fleury/Coarquitetos
Poli Salomé

Trilha sonora e sonoplastia
Zé Pedro Gollo
Rafael Ops

Iluminação
Lemar Rezende

Preparação corporal
Tobias

Assessoria de imprensa
Clara Camarano
Denise Camarano

Mídias sociais 
Clara Molina

Design Gráfico
Maíra Guimarães/Coarquitetos

Estagiário de produção
Ilgner Boyek

Direção de produção
Aline Cardoso

O projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC). ApoioBurburinho Cultural, Coarquitetos, Secretaria de Cultura e Economia Criativa e Galpão Salomé

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